O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) divulgou manifesto na noite da sexta-feira (8), quando sua candidatura foi lançada oficialmente, para confirmar sua disposição de disputar a Presidência da República e reafirmar sua inocência. “Há dois meses estou impedido de percorrer o País que amo, levando a mensagem de esperança num Brasil melhor e mais justo, com oportunidades para todos, como sempre fiz em 45 anos de vida pública”, disse Lula, para quem “está chegando a hora da verdade”.
“Quero ser presidente do Brasil novamente porque já provei que é possível construir um Brasil melhor para o nosso povo”, afirmou Lula no manifesto. “Assumo esta missão porque tenho uma grande responsabilidade com o Brasil e porque os brasileiros têm o direito de votar livremente num projeto de país mais solidário, mais justo e soberano, perseverando no projeto de integração latino-americana.”
Ele defendeu a união das forças democráticas do país, “respeitando a autonomia dos partidos e dos movimentos, mas sempre tendo como referência um projeto de País mais solidário e mais justo, que resgate a dignidade e a esperança da nossa gente sofrida”.
“Tenho certeza de que estaremos juntos ao final da caminhada”, conclui.
Confira o manifesto na íntegra.
MANIFESTO AO POVO BRASILEIRO
Há dois meses estou preso, injustamente, sem ter cometido crime nenhum.
Há dois meses estou impedido de percorrer o País que amo, levando a
mensagem de esperança num Brasil melhor e mais justo, com oportunidades
para todos, como sempre fiz em 45 anos de vida pública.
Fui privado de conviver diariamente com meus filhos e minha filha, meus
netos e netas, minha bisneta, meus amigos e companheiros. Mas não tenho
dúvida de que me puseram aqui para me impedir de conviver com minha
grande família: o povo brasileiro. Isso é o que mais me angustia, pois sei que,
do lado de fora, a cada dia mais e mais famílias voltam a viver nas ruas,
abandonadas pelo estado que deveria protegê-las.
De onde me encontro, quero renovar a mensagem de fé no Brasil e em
nosso povo. Juntos, soubemos superar momentos difíceis, graves crises
econômicas, políticas e sociais. Juntos, no meu governo, vencemos a fome, o
desemprego, a recessão, as enormes pressões do capital internacional e de
seus representantes no País. Juntos, reduzimos a secular doença da
desigualdade social que marcou a formação do Brasil: o genocídio dos
indígenas, a escravidão dos negros e a exploração dos trabalhadores da
cidade e do campo.
Combatemos sem tréguas as injustiças. De cabeça erguida, chegamos a ser
considerados o povo mais otimista do mundo. Aprofundamos nossa
democracia e por isso conquistamos protagonismo internacional, com a
criação da Unasul, da Celac, dos BRICS e a nossa relação solidária com os
países africanos. Nossa voz foi ouvida no G-8 e nos mais importantes fóruns
mundiais.
Tenho certeza que podemos reconstruir este País e voltar a sonhar com
uma grande nação. Isso é o que me anima a seguir lutando.
Não posso me conformar com o sofrimento dos mais pobres e o castigo que
está se abatendo sobre a nossa classe trabalhadora, assim como não me
conformo com minha situação.
Os que me acusaram na Lava Jato sabem que mentiram, pois nunca fui dono, nunca tive a posse, nunca passei uma noite no tal apartamento do Guarujá. Os que me condenaram, Sérgio Moro e os desembargadores do TRF-4, sabem que armaram uma farsa judicial para me prender, pois demonstrei minha inocência no processo e eles não conseguiram apresentar a prova docrime de que me acusam.
Até hoje me pergunto: onde está a prova?
Não fui tratado pelos procuradores da Lava Jato, por Moro e pelo TRF-4
como um cidadão igual aos demais. Fui tratado sempre como inimigo.
Não cultivo ódio ou rancor, mas duvido que meus algozes possam dormir
com a consciência tranquila.
Contra todas as injustiças, tenho o direito constitucional de recorrer em
liberdade, mas esse direito me tem sido negado, até agora, pelo único motivo
de que me chamo Luiz Inácio Lula da Silva.
Por isso me considero um preso político em meu país.
Quando ficou claro que iriam me prender à força, sem crime nem provas,
decidi ficar no Brasil e enfrentar meus algozes. Sei do meu lugar na história e
sei qual é o lugar reservado aos que hoje me perseguem. Tenho certeza de
que a Justiça fará prevalecer a verdade.
Nas caravanas que fiz recentemente pelo Brasil, vi a esperança nos olhos
das pessoas. E também vi a angústia de quem está sofrendo com a volta da
fome e do desemprego, a desnutrição, o abandono escolar, os direitos
roubados aos trabalhadores, a destruição das políticas de inclusão social
constitucionalmente garantidas e agora negadas na prática.
É para acabar com o sofrimento do povo que sou novamente candidato à
Presidência da República.
Assumo esta missão porque tenho uma grande responsabilidade com o
Brasil e porque os brasileiros têm o direito de votar livremente num projeto
de país mais solidário, mais justo e soberano, perseverando no projeto de
integração latino-americana.
Sou candidato porque acredito, sinceramente, que a Justiça Eleitoral
manterá a coerência com seus precedentes de jurisprudência, desde 2002,não se curvando à chantagem da exceção só para ferir meu direito e o direitodos eleitores de votar em quem melhor os representa.
Tive muitas candidaturas em minha trajetória, mas esta é diferente: é o
compromisso da minha vida. Quem teve o privilégio de ver o Brasil avançar
em benefício dos mais pobres, depois de séculos de exclusão e abandono, não
pode se omitir na hora mais difícil para a nossa gente.
Sei que minha candidatura representa a esperança, e vamos levá-la até as
últimas consequências, porque temos ao nosso lado a força do povo.
Temos o direito de sonhar novamente, depois do pesadelo que nos foi
imposto pelo golpe de 2016.
Mentiram para derrubar a presidenta Dilma Rousseff, legitimamente eleita.
Mentiram que o país iria melhorar se o PT saísse do governo; que haveria
mais empregos e mais desenvolvimento. Mentiram para impor o programa
derrotado nas urnas em 2014. Mentiram para destruir o projeto de
erradicação da miséria que colocamos em curso a partir do meu governo.
Mentiram para entregar as riquezas nacionais e favorecer os detentores do
poder econômico e financeiro, numa escandalosa traição à vontade do povo,
manifestada em 2002, 2006, 2010 e 2014, de modo claro e inequívoco.
Está chegando a hora da verdade.
Quero ser presidente do Brasil novamente porque já provei que é possível
construir um Brasil melhor para o nosso povo. Provamos que o País pode
crescer, em benefício de todos, quando o governo coloca os trabalhadores e
os mais pobres no centro das atenções, e não se torna escravo dos interesses
dos ricos e poderosos. E provamos que somente a inclusão de milhões de
pobres pode fazer a economia crescer e se recuperar.
Governamos para o povo e não para o mercado. É o contrário do que faz o
governo dos nossos adversários, a serviço dos financistas e das
multinacionais, que suprimiu direitos históricos dos trabalhadores, reduziu o
salário real, cortou os investimentos em saúde e educação e está destruindo
programas como o Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida, o Pronaf, Luz Pra
Todos, Prouni e Fies, entre tantas ações voltadas para a justiça social.
Sonho ser presidente do Brasil para acabar com o sofrimento de quem não
tem mais dinheiro para comprar o botijão de gás, que voltou a usar a lenha
para cozinhar ou, pior ainda, usam álcool e se tornam vítimas de graves acidentes e queimaduras. Este é um dos mais cruéis retrocessos provocados pela política de destruição da Petrobrás e da soberania nacional, conduzida pelos entreguistas do PSDB que apoiaram o golpe de 2016.
A Petrobrás não foi criada para gerar ganhos para os especuladores de
Wall Street, em Nova Iorque, mas para garantir a autossuficiência de
petróleo no Brasil, a preços compatíveis com a economia popular. A
Petrobrás tem de voltar a ser brasileira. Podem estar certos que nós vamos
acabar com essa história de vender seus ativos. Ela não será mais refém das
multinacionais do petróleo. Voltará a exercer papel estratégico no
desenvolvimento do País, inclusive no direcionamento dos recursos do pré-
sal para a educação, nosso passaporte para o futuro.
Podem estar certos também de que impediremos a privatização da
Eletrobrás, do Banco do Brasil e da Caixa, o esvaziamento do BNDES e de
todos os instrumentos de que o País dispõe para promover o
desenvolvimento e o bem-estar social.
Sonho ser o presidente de um País em que o julgador preste mais atenção à
Constituição e menos às manchetes dos jornais.
Em que o estado de direito seja a regra, sem medidas de exceção.
Sonho com um país em que a democracia prevaleça sobre o arbítrio, o
monopólio da mídia, o preconceito e a discriminação.
Sonho ser o presidente de um País em que todos tenham direitos e
ninguém tenha privilégios.
Um País em que todos possam fazer novamente três refeições por dia; em
que as crianças possam frequentar a escola, em que todos tenham direito ao
trabalho com salário digno e proteção da lei. Um país em que todo
trabalhador rural volte a ter acesso à terra para produzir, com financiamento
e assistência técnica.
Um país em que as pessoas voltem a ter confiança no presente e esperança
no futuro. E que por isso mesmo volte a ser respeitado internacionalmente,
volte a promover a integração latino-americana e a cooperação com a África,
e que exerça uma posição soberana nos diálogos internacionais sobre o
comércio e o meio ambiente, pela paz e a amizade entre os povos.
Nós sabemos qual é o caminho para concretizar esses sonhos. Hoje ele
passa pela realização de eleições livres e democráticas, com a participação de
todas as forças políticas, sem regras de exceção para impedir apenas
determinado candidato.
Só assim teremos um governo com legitimidade para enfrentar os grandes
desafios, que poderá dialogar com todos os setores da nação respaldado pelo
voto popular. É a esta missão que me proponho ao aceitar a candidatura
presidencial pelo Partido dos Trabalhadores.
Já mostramos que é possível fazer um governo de pacificação nacional, em
que o Brasil caminhe ao encontro dos brasileiros, especialmente dos mais
pobres e dos trabalhadores.
Fiz um governo em que os pobres foram incluídos no orçamento da União,
com mais distribuição de renda e menos fome; com mais saúde e menos
mortalidade infantil; com mais respeito e afirmação dos direitos das
mulheres, dos negros e à diversidade, e com menos violência; com mais
educação em todos os níveis e menos crianças fora da escola; com mais
acesso às universidades e ao ensino técnico e menos jovens excluídos do
futuro; com mais habitação popular e menos conflitos de ocupações nas
cidades; com mais assentamentos e distribuição de terras e menos conflitos
de ocupações no campo; com mais respeito às populações indígenas e
quilombolas, com mais ganhos salariais e garantia dos direitos dos
trabalhadores, com mais diálogo com os sindicatos, movimentos sociais e
organizações empresarias e menos conflitos sociais.
Foi um tempo de paz e prosperidade, como nunca antes tivemos na
história.
Acredito, do fundo do coração, que o Brasil pode voltar a ser feliz. E pode
avançar muito mais do que conquistamos juntos, quando o governo era do
povo.
Para alcançar este objetivo, temos de unir as forças democráticas de todo
o Brasil, respeitando a autonomia dos partidos e dos movimentos, mas
sempre tendo como referência um projeto de País mais solidário e mais
justo, que resgate a dignidade e a esperança da nossa gente sofrida. Tenho
certeza de que estaremos juntos ao final da caminhada.
Daqui onde estou, com a solidariedade e as energias que vêm de todos os
cantos do Brasil e do mundo, posso assegurar que continuarei trabalhandopara transformar nossos sonhos em realidade. E assim vou me preparando,com fé em Deus e muita confiança, para o dia do reencontro com o queridopovo brasileiro.E esse reencontro só não ocorrerá se a vida me faltar.
Até breve, minha gente
Viva o Brasil! Viva a Democracia! Viva o Povo Brasileiro!
Luiz Inácio Lula da Silva
Curitiba, 8 de junho de 2018