Na semana passada, o presidente do Comitê Olímpico Australiano, John Coates, fez um apelo por escrito a Carlos Arthur Nuzman, que acumula as presidências do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e do Comitê Organizador da Rio 2016, para que Volkers não fosse credenciado para o evento.
Nesta terça-feira, a BBC Brasil apurou que o COB informou oficialmente aos australianos que atenderá ao pedido.
Na década passada, Volkers foi a julgamento por acusações feitas por três nadadoras, mas um tribunal julgou não haver provas suficientes para julgá-lo. Ainda assim, as autoridades do país o proibiram de trabalhar com menores de 16 anos.
Em 2011, Volkers mudou-se para o Brasil e assumiu o comando da natação do Minas Tênis Clube, por onde competem algum dos principais nadadores da equipe olímpica brasileira.
O australiano, que chegou a trabalhar com Cesar Cielo, o nome mais conhecido da natação brasileira, nega as acusações.
A BBC Brasil tentou entrevistá-lo por intermédio do Minas Clube, sem sucesso.
Por meio de sua assessoria de imprensa, o Minas disse não ter sido notificado da decisão do COB, mas disse que o clube não vê problema na exclusão.
“Estamos satisfeitos com a presença de oito de nossos atletas na equipe. A convocação dos treinadores é uma decisão da CDBA e nem foi anunciada ainda. Sobre o Scott, o clube tem a dizer que sua conduta tem sido exemplar”, disse um dos assessores do Minas, Rodrigo Fuscaldi.
De acordo com o regulamento da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), Volkers, por causa do número de atletas que o Minas fornece à seleção, estaria habilitado a ocupar um das sete vaga de treinadores que a natação brasileira terá na Rio 2016.
A entidade já teria, inclusive, informado ao Minas que o australiano será substituído por outro treinador, Fernando Antônio Vanzella. A BBC Brasil apurou que a CBDA teria sido aconselhada pela Federação Internacional de Natação (Fina) a não selecionar Volkers para os Jogos. Oficialmente, a CBDA informou apenas que a equipe ainda não estava formada, mas o coordenador técnico Ricardo de Moura admitiu, em entrevista na semana passada, que a controvérsia poderia custar a vaga a Volkers.
“Certamente a questão serve de alerta”, disse.
De qualquer forma, a palavra final na formação da delegação brasileira é do COB, responsável pelo credenciamento tanto de atletas quanto de pessoal de apoio.
Na carta enviada a Nuzman, Coates foi além de pedir que o treinador seja impedido de participar da Olimpíada. Recomenda que ele seja banido de trabalhar.
Coates incluiu na carta a cópia de um inquérito em que uma comissão do governo australiano demonstrou preocupação com as alegações e criticou a decisão da Justiça australiana de não levar o processo adiante.
“Nós acreditamos que ele (Volkers) não deveria estar envolvido de maneira alguma com a Rio 2016”, diz o dirigente australiano na carta.
Em Belo Horizonte, o australiano trabalha com nadadores de todas as idades. O Minas Tênis disse “ter feito ampla pesquisa e entrevista” sobre Volkers e que também se reuniu com pais de nadadores para discutir a contratação. Segundo o clube, o treinador “recebeu um voto de confiança” dos pais.
A CBDA também não colocou obstáculos para o trabalho de Volkers, sob a justificativa de que ele não tinha sido condenado pelas acusações e que não tinha cometido crimes no Brasil. E também o utilizou na seleção brasileira.
Volkers ficou famoso no mundo da natação por ter orientado a carreira das australianas Samanta Riley e Susie O’Neill, duas das mais vitoriosas nadadoras da era moderna.
Em uma entrevista recente ao jornal australiano Daily Telegraph, Coates menciona o fato de o técnico não ter sido condenado pela Justiça, mas diz ter conversado sobre o assunto com Nuzman quando os dois se encontraram em Lausanne, na Suíça, durante a cerimônia de passagem da tocha olímpica pela sede do Comitê Olímpico Internacional (COI).
“Nuzman entendeu a seriedade deste assunto. Eu não posso forçar a exclusão dele (Volkers), mas tinha a obrigação de chamar a atenção dos brasileiros”, disse o australiano.
Em 2014, Volkers deu uma entrevista ao jornal australiano The Courier Mail, em que disse “ser uma pessoal normal”.
“Não sou um fugitivo. Visito a Austrália todos os anos”, declarou.
Naquele mesmo ano, porém, ele foi impedido pelas autoridades do país de participar de um torneio internacional de natação, em Gold Coast, quando teve negado pedido de credenciamento. A CBDA optou por substituí-lo na delegação.