A arte do corpo

A arte do corpo
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O que motiva a criar? Por que todo ser humano tem inquietações, mas poucos são os que conseguem dar esse sentimento uma dimensão artística propriamente dita? Afinal, sentir-se feliz ou triste não é privilégio, mas gerar a partir dali uma obra de arte constitui um desafio, um trabalho que demanda concentração e pesquisa.

O filme francês ‘Até nunca mais’, inspirado no romance ‘A artista do corpo’, do norte-americano Don DeLillo e dirigido por Benoît Jacquot dá a essas questões uma dimensão metafísica essencial. Sob um certo suspense e terror, está a história de uma performer que perde o marido em um acidente.

As perguntas se acumulam a partir daí, pois existe a possibilidade de suicídio dele. O essencial, porém, é que ela não se consegue se libertar da onipresença do marido morto. Ele domina a casa, e o resultado final é uma performance da protagonista. Cabe lembrar que foi assim também, numa manifestação artística que a moça realizara, que o marido a conhecera.

O início e o final do filme, portanto, estão ligados à arte do corpo, numa narrativa em que a história contada é bem menos importante que as percepções que ela desperta. É com esse espírito que a obra deve ser vista. Os acontecimentos entre a primeira e a última performance alertam que tudo pode ser arte. A intensidade do que se faz é que constitui a diferença.

 

Por Oscar D’Ambrosio, mestre em Artes Visuais e doutor em Educação, Arte e História da Cultura, é Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo..

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